Quais os aspectos positivos e negativos do uso do computador pelos alunos?
O curso acima está me ajudando a refletir, por isso quero compartilhar parte dele com vocês. Espero ajudar a todos.
No dia a dia em sala de aula, são diversas as formas
utilizadas para expressar saberes. Mas, certamente a base principal do nosso
sistema de ensino é a leitura e, na sua recíproca, a escrita. A cultura de
escola é uma cultura letrada, com pouca ou nenhuma presença de outras formas de
textualidade; o letramento está presente na maioria dos materiais didáticos,
como livros, apostilas, textos de jornais e revistas. A apresentação de
trabalhos dos estudantes também é frequentemente solicitada de forma escrita; poucas
são as solicitações de produções que privilegiem o oral, o imagético etc.
Como já
mencionamos, o nosso sistema de ensino, que é baseado predominantemente na
leitura e na escrita, acaba se tornando menos atrativo em relação às múltiplas
mídias disponíveis na rede. Essas mídias propiciam novas e ricas formas de
interação que podem levar o aluno a apresentar mais interesse em aprender.
Diante dessa constatação, Belintane (2006) nos convida a analisar a relação
entre a produção de um texto e o ensino da escrita partindo dos novos suportes,
como os editores de texto.
Segundo Belintane
(2006), o processo de escrita exige o domínio do processo de codificação
simbólica e ainda o domínio de um conjunto de técnicas e estratégias
específicos do suporte que se está usando (lembremo-nos dos exercícios de
caligrafia e de coordenação motora que se costuma fazer com as crianças durante
o processo de alfabetização). O autor lembra-nos de que há uma tensão forte na
passagem da oralidade para a escrita. Nós, os letrados, estamos tão envolvidos
pelo processo de letramento que temos grandes dificuldades em nos expressar
naquelas modalidades de textualidade que são mais orais (narrativas, cânticos,
poemas etc.). Em geral, os repentistas são oriundos das culturas iletradas.
Essa tensão entre oralidade e escrita, pelo modo como tem sido (sub)entendida e
tratada, acabou resultando na perda de parte da riqueza da oralidade, para os
letrados e na exclusão social dos iletrados.
A letra dos nossos jovens já não é mais a mesma, não é?
Outro aspecto que está bastante forte em todas as instituições educacionais é o
fenômeno da disseminação do plágio (o famoso Control+C, Control+V) – a
facilidade de copiar e colar texto de um local para outro, sem precisar nem
mesmo o esforço da digitação. Antes do computador, os alunos também copiavam
textos, mas, como faziam manualmente, eram obrigados a pelo menos ler aquilo
que estavam copiando no ritmo lento daquela forma de escrita. O tempo ao qual
estavam presos nessa atividade poderia acabar levando-os, até
involuntariamente, a alguma reflexão sobre o assunto. Atualmente, o fenômeno da
cópia está muito sério, até em trabalhos acadêmicos importantes o problema já é
comum.
Este problema pode
ser minimizado com o cuidado e a atenção do professor. Afinal, um professor que
conhece o nível de desenvolvimento linguístico dos seus alunos consegue
perceber quando não foi ele que escreveu algo. E, em caso de dúvida, sempre
podemos recorrer às pesquisas na Internet, porque em geral as cópias são feitas
de documentos que estão na Internet. Mais adiante, nesta unidade, retomaremos
esta questão.
Além dessas
perdas, teríamos outras? Haveria, por exemplo, perda de alguma habilidade de
raciocínio presente na escrita manual na passagem para a digital? Nesse
sentido, Vasconcellos (2002) salienta a complexidade de elaboração do pensamento
relativa às diferentes formas de expressão, em que a exposição por meio da
linguagem escrita exige maior nível de abstração e síntese do que quando
falamos. Fica mais fácil produzir um texto depois que conversamos com alguém e
trocamos ideias a respeito do que queremos dizer, não é mesmo? A produção
digital muda bastante o processo de construção do texto. O nível de abstração
atingido seria o mesmo no processo de redação manual e digital?
A possibilidade de
recriação no processo de escrita com o uso deste tipo de ferramenta é visível
pela facilidade de alteração de um documento. Ao escrever, o usuário pode
selecionar trechos e realizar edições como mover, apagar, substituir palavras
etc. A estruturação de um texto, com o uso da tecnologia, ganha enorme
agilidade, visto que permite eliminar as operações que correriam no suporte do
papel, como rasuras, “passar a limpo” etc. A eliminação dessas atividades
morosas possibilitam ao estudante dedicar seu tempo inteiramente à autoria do
material, potencializando produções mais elaboradas.
Ou seria o contrário, a redação manual exige um processo de
preparação e planejamento um pouco mais elaborado, levando, assim, o sujeito a
atingir níveis de abstração maiores. São hipóteses plausíveis. Qual a
verdadeira? Cremos que, com muita atenção e cuidado, os professores – na medida
em que forem experimentando e buscando melhor compreender as potencialidades e
limitações de uma forma ou da outra – aos poucos encontrarão respostas. Talvez
ambas as hipóteses sejam verdadeiras em diferentes momentos ou contextos, mas
antes de fazermos julgamentos de valor, é preciso que experimentemos essas
distintas formas de escrita, com o foco também no desenvolvimento dos alunos.
Professora Ângela