Esse é um relato de uma vivência na escola há 5 anos atrás que resolvi novamente compartilhar com vocês.
Na primeira reunião do ano, uma mãe que estava sentada no fundo da sala, aguardou pacientemente que todas as outras mães fossem embora para se aproximar e dizer: "Professora, sou a mãe de J e percebi pelo desenho que ele fez para representar a família que eu novamente não estou presente (J desenhou-se e a seu pai). Na verdade tenho uma filha especial e quase não tenho tempo para J"......
Desde então tenho observado o comportamento de J quando falamos sobre os relacionamentos entre pais e filhos. Ele é uma criança inteligente e dedicada, porém muito tímida e distraída. Tem alguns amigos na sala, mas é comum aqueles dias em que não quer brincar com ninguém. Como em minha sala há uma criança com necessidades especiais, pude observar que J não também não gosta de brincar com ela.
Assim, pesquisando encontrei um texto que trata desse assunto e resolvi compartilhar com vocês do Educação em Foco, pois quase nunca pensamos nos conflitos emocionais que essas crianças enfrentam. Segue o link do texto.
Se para os pais é difícil a compreensão e a aceitação do diagnóstico e possíveis causas da deficiência do seu filho, para os irmãos esta dificuldade assume proporções ainda maiores.
Impactados e enfeitiçados pelo mistério da deficiência, alguns irmãos percebem, a cada dia, a atribuição de novas responsabilidades e cargas extras em função da deficiência do seu irmão ou irmã, sobrecarregando ou modificando totalmente a sua rotina. Estas expectativas, geralmente trazidas pelos pais, são muitas vezes insensatas para sua idade, pois ocasionalmente ou frequentemente precisam agir como mães ou pais substitutos, como babás ou cuidadores, como exemplos e referenciais de paciência e tolerância. Como estas responsabilidades, na maioria dos casos, não são adotadas espontaneamente pelos irmãos, eles podem facilmente retraírem-se ou revoltarem-se com seus pais e com a condição de deficiência.
Powell e Ogle, no livro Irmãos Especiais, trazem a declaração de uma jovem sobre sua vida como irmã de alguém com deficiência bastante ilustrativa desta situação:
"Doug não dava descanso. Dia após dia, suas necessidades tinham de ser satisfeitas independentemente de nossos desejos. Ele sempre estava em primeiro lugar... Como a presença de Douglas dominava tudo, eu não tinha tempo para mim. Nessas condições, a infância assume uma dimensão constrangedora. Um irmão sem o direito fundamental de ser uma criança. Uma oportunidade de convidar amigos nem sempre se materializava, porque as visitas dependiam da disposição e do comportamento de meu irmão. Minhas saídas eram reguladas pela necessidade que minha mãe tinha de minha ajuda em tudo. Minha mãe apelidou-me de "a outra mãe" quando assumi minhas responsabilidades com seriedade e maturidade superiores a meus poucos anos. Infelizmente, esse comportamento tornou-se uma norma de vida" (p33).
O constrangimento e a sensação de julgamento pelos outros de que não apenas o irmão tem a deficiência, mas toda a família é estigmatizada como deficiente, leva a maioria dos irmãos ao pânico, ao embaraço e, consequentemente, à tentativa de esconder-se ou esconder a deficiência como medida de (auto)proteção.
A desigualdade no tratamento pelos pais entre os irmãos com e sem deficiência podem gerar sentimentos de hostilidade, ciúme e pesar.
Novamente, encontramos em Powell e Ogle, no livro Irmãos Especiais, um exemplo desta condição:
"Tudo o que Mindy fazia era aceito com grande entusiasmo por nossos pais. Em contraste, a reação de mamãe e papai a minhas realizações não passava de um mero tapinha nas costas. Esperavam que eu me portasse bem em qualquer circunstância. Eu queria que meus pais ficassem entusiasmados com o que eu fazia também... Eu queria que me dessem atenção" (p.33).
Um grande beijo
Cris Chabes